“A questão é que o continente declarou guerra contra a Ilha Sapatão. E enquanto a Ilha sempre viveu em nós, é importante lembrar que nós sempre vivemos no continente. Sem nem saber o nome da Ilha, seus mapas, seus relevos ou bacias hidrográficas. O continente criou soldadas dentro de nós, preparadas para declarar guerra contra nós mesmas. Contra nossas terras, nossos corpos, nossas companheiras. Contra nossas vozes, deixando nossas histórias apagadas, como eles sempre quiseram e fizeram. O continente criou soldadas autodestrutivas em nós mesmas e soldados violentos fora de nós, prontos para nos eliminar. Prontos para nos curar, como se estivéssemos doentes. O continente declarou guerra contra a Ilha Sapatão e por isso é difícil descansar o pescoço no travesseiro todas as noites. Mesmo se você tiver a sorte de ter pais que te amam. Ou uma namorada que te levanta ao mesmo tempo em que você tenta levantar ela. É difícil, porque a guerra não tá acontecendo só lá fora. Ela tá acontecendo dentro de você, do lado, em cima, em baixo. E você vira um grande emaranhado de… alguma coisa. Poucos vão ficando, porque a realidade é que é difícil não desertar de um país em guerra.” 

É dessa Guerra que o livro quer tratar sem, necessariamente, apresentar uma solução que vá além de quebrar silêncios e construir novos afetos. Mas a lesbianidade é uma identidade, é política, é amor, traz consigo muitas coisas – e tantas delas são intraduzíveis em palavras. Que este livro seja um convite para sentir, para se auto reconhecer ou para molhar os pés no universo profundo do que é ser lésbica.