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A tese defendida pelos narrativistas é a de que a experiência humana se constitui como uma estrutura narrativa, não havendo assim uma instância pré-narrativa ou mesmo pré-linguística desprovida de tal estrutura. Pessoas são, segundo o narrativismo, personagens reais de narrativas de vida efetivas, não existindo nada por detrás disso. Os anti-narrativistas, por seu turno, consideram que a narrativa é apenas uma forma tardia e externa, estabelecendo-se como um acréscimo extemporâneo daquilo que de fato constitui a experiência humana, com relação à qual a introdução de noções de início, meio e fim representa apenas uma distorção. Há, assim, uma dimensão ética pontuando toda esta discussão, pois o que é considerado como a condição básica para a descrição correta do agente moral no caso dos narrativistas, ou seja, a identidade narrativa, é, para os anti-narrativistas (sendo Sartre o exemplo mais notório dessa posição), apenas autoilusão. Minha contribuição para este debate é mostrar que, negativamente, as duas perspectivas, se tomadas em separado, não oferecem uma visão satisfatória do que seja uma pessoa, e que, positivamente, é possível oferecer uma abordagem compatibilista, onde a experiência humana é descrita a partir das relações entre um “autor”, isto é, o projeto impessoal e incorporado, cuja descrição possui alguns pontos em comum com Sartre, e seu “personagem” (sempre ficcional, e não real, como supõe MacIntyre). Essas duas dimensões estruturam-se de tal forma que o não-narrativo e o narrativo são entendidos como instâncias que são de fato intrinsecamente co-dependentes.