Esse mito, a história traz à tona um olhar para relações de gênero vivenciadas na América Latina em narrativas de Eduardo Galeano. Experiências de mulheres e homens, ao ganharem cena enquanto relatos sobre opressão, mas também sobre resistência, demonstram  como parte do percurso literário de Galeano buscou abarcar as variadas complexidades das individualidades e coletividades encontradas tanto antes da chegada dos europeus, quanto durante a colonização. Essas histórias  são analisadas à medida que contribuem para demonstrar parte de um diálogo de Eduardo Galeano com as fontes que utiliza para tecer suas narrativas na obra Los nacimientos. Ao instaurar uma relação a princípio imprevista, mas de todo modo concreta, com a contribuição que os Estudos de Gênero vêm dando à análise das relações sociais, Francielly Baliana tece um olhar expressivo para as contingências, materialidades e  silêncios que cada uma dessas narrativas é capaz de manifestar. Nessa empreitada, a abertura a uma desconstrução do processo de pensamento sobre o que forma o gênero e a própria sexualidade aponta para o que também forma certa capacidade de identificar e representar uma realidade vasta como a latino-americana. Para Galeano, a história é um universo de mitos e os mitos, inevitavelmente, também têm sua própria carga de história, movimento que, longe de um problema, parece ser uma contribuição desse território de definições incertas que se convencionou chamar de literatura.